Carta

05jul09

Fique assim, quero olhar para você, já olhei tanto, mas não era para mim, agora é para mim, não se aproxime, peço-lhe, fique como esta, temos uma noite para nós, e quero olhar para você, nunca o vi assim, seu corpo para mim, sua pele, feche os olhos, e se acaricie, peço-lhe,

Não abra os olhos se puder, e se acaricie, são tão bonitas as suas mãos, sonhei tantas vezes com elas, e agora quero vê-las, agrada-me vê-las, agrada-me vê-las sobre sua pele, assim, peço-lhe, continue, não abra os olhos, senhor amado meu, acaricie seu sexo, peço-lhe, devagar,

É bela sua mão sobre seu sexo, não pare, agrada-me olhar para ela e olhar para você, senhor amado meu, não abra os olhos, não ainda, não tenha medo, pois estou perto de você, não sente? Estou aqui, posso roçá-lo, isto é seda, sente-a?, é a seda do meu vestido, não abra os olhos, e terá minha pele,

Terá meus lábios, quando eu o tocar pela primeira vez será com meus lábios, você não saberá onde, a certa altura sentirá sobre você o calor dos meus lábios, não pode saber onde se não abrir os olhos, não abra, sentirá minha boca onde não sabe, de repente,

Talvez seja nos seus olhos, encostarei minha boca nas pálpebras e nos cílios, você sentirá o calor entrar na sua cabeça, e meus lábios nos seus olhos, dentro, ou talvez seja no seu sexo, porei meus lábios lá e os abrirei descendo pouco a pouco,

Deixarei que seu sexo encha minha boca, entrando pelos meus lábios, e empurrando minha língua, minha saliva descerá ao longo da sua pele até sua mão, meu beijo e a sua mão, um dentro da outra, sobre o seu sexo,

Até que no fim o beijarei no coração, porque te quero, morderei a pele que bate sobre seu coração, porque te quero, e com o coração entre meus lábios você será meu, de verdade, com a minha boca no coração você será meu, para sempre, se não acredita em mim abra os olhos, senhor amado meu, e olhe para mim, sou eu, quem poderá anular este instante que acontece, e este meu corpo agora sem seda, suas mãos que o tocam, e seus olhos que o fitam,

Seus dedos no meu sexo, sua língua em meus lábios, você escorregando debaixo de mim, segurando meus quadris, me levantado, me deixando deslizar sobre seu sexo, sem pressa, quem poderá anular isto, você dentro de mim se movendo devagar, suas mãos no meu rosto, seus dedos na minha boca, o prazer em seus olhos, sua voz, você se move devagar até me machucar, meu prazer, minha voz,

Meu corpo sobre o seu, seu dorso que me levanta, seus braços que não me deixam ir, os golpes dentro de mim, é uma violência doce, vejo seus olhos buscarem os meus, querem saber até onde me fazem mal, até onde você quiser, senhor amado meu, não há fim, não acabará, está vendo? Ninguém poderá anular este instante que acontece, para sempre você jogará a cabeça para trás, gritando, para sempre fecharei os olhos, estancando lágrimas, minha voz dentro da sua, sua violência ao me apertar, não há mais tempo para fugir nem força para resistir, deve existir este instante, e este instante existe, acredite em mim, senhor amado meu, este instante existirá, a partir de agora, existirá, até o fim,

– Não nos veremos mais, senhor.

– O que era para nós, nós o fizemos, e o senhor sabe. Acredite em mim: nós o fizemos para sempre. Mantenha-se protegido contra mim. E não hesite um instante, se for útil para a sua felicidade, em esquecer esta mulher que agora lhe diz, sem saudades, adeus.

<Seda, Alessandro Barico>



1 Responses to “Carta”

  1. 1 Karol

    lindo lindo. sutil e verdadeiro. sente-se o momento.


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